quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Milagres que Enfraquecem a Fé.

Estamos vivendo nos nossos dias uma experiência estranha no ambiente protestante brasileiro, especialmente no seu corte neo-pentecostal. Pois não são raras as vezes que nós, diante dos programas de TV e dos cultos televisivos, vemos os pastores clamarem por curas e livramentos sobrenaturais - e de forma instantânea. E que se nós, os telespectadores, soubermos “pôr em ação a nossa fé”, receberemos a benção.
A maneira correta de colocar nossa fé em ação nada tem a ver com “o sacrificar” (leia-se ofertar com toda a ousadia), nem é adotar as novas liturgias ou fórmulas de manipular a Deus (ex: troca-se a combinação súplica com ações de graças pelo determinar), arrancando d’Ele aquilo que Ele não estava disposto a nos entregar de “mão beijada”. Persistência em orar sem cessar e sem desfalecer (enquanto se espera que Deus realize o plano d’Ele) é um bom exemplo da fé em ação.
Ora, se Deus responde com tanta pressa e agilidade os clamores dessa gente, nós temos então um deus que espera a nossa fé entrar em cena para que ele venha nos socorrer. Parece estranho pensar que Deus nos ajuda movido pela nossa fé, ou seja, a nossa fé é o combustível da ação de Deus em nosso favor. Assim sem fé Deus poderia permanecer na condição de indiferença em relação ao nosso sofrer.
Parece estranho também que o grupo que mais fala sobre a fé e, supostamente também, o que mais demonstre o seu poder, seja tão carente de manifestações visíveis do poder de Deus. Pois, se estou lendo a Bíblia pelas lentes corretas, podemos dizer que é bem aventurado aquele que possui uma fé que independe de milagres e respostas imediatas de Deus. Bem aventurado é aquele que tem uma fé que convive com o silêncio de Deus e que interage com adoração mesmo diante das negativas divinas: é o paraplégico que louva a Deus mesmo sem sair da cadeira de rodas, e o doente que não recebeu a cura e continua clamando e servindo.
Parece-me que essa é a fé verdadeira. Dá gosto e vontade conhecer este Deus que tem adoradores que, embora sofram, continuam servindo-o. Parece-me que no mundo de hoje, a fé carente de milagres é pobre e pragmática. Pobre porque “adora” a Deus por aquilo que ele faz - não por ser quem Ele é; e pragmática porque depende de resultados para se manter ativa.
Não podemos desenvolver a síndrome de Tomé, que carece de milagres para crer. O protestantismo neo- pentecostal dos nossos dias tem desenvolvido verdadeiros “Tomés”, pois, ao orar, pressupõe ou impõe que Deus necessariamente agirá de forma palpável, e isso, ao invés de fortalecer, enfraquece a fé.
Há milagres que ao invés de fortalecer a fé a enfraquecem.