quarta-feira, 23 de julho de 2008

PROFETAS TAMBÉM DENUNCIAM O ÓBVIO

É Proibido Pensar
João Alexandre
Composição: João Alexandre

Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições

A extravagâncias vem de todos os lados
E faz chover profetas apaixonados
Morrendo em pé rompendo a fé dos cansados
Com suas canções

Estar de bem com vida é muito mais que renascer
Deus já me deu sua palavra
E é por ela que ainda guio o meu viver

Reconstruindo o que Jesus derrubou
Re-costurando o véu que a cruz já rasgou
Ressuscitando a lei pisando na graça
Negociando com Deus

No show da fé milagre é tão natural
Que até pregar com a mesma voz é normal
Nesse evangeliquês universal
Se apossando do céus

Estão distantes do trono, caçadores de deus
Ao som de um shofar
E mais um ídolo importado dita as regras
Pra nos escravizar.

É proibido pensar (5X)

Procuro alguém pra resolver meu problema...
É proibido pensar....

quinta-feira, 10 de julho de 2008

“Teologizando” a nossa Inteligência – uma abordagem introdutória

...talvez esse também seja tema para outro artigo.


Antigamente costumava-se descrever a figura do cristão como um ser anti intelectual (preso à desinformação), alguém que renunciou à razão e vive alienado da sociedade, com um livro preto debaixo do braço: tendo-o como a cartilha da sua vida sem ao menos entendê-lo muito bem.
Crer é também pensar. Hoje os tempos são outros, e os homens e mulheres da fé já não têm sido tachados daquela forma com a intensidade de antigamente.
Ser evangélico hoje é chique e está na moda. Basta ver as celebridades da mídia que abandonam as suas carreiras para aderir ao movimento evangélico. (Bem, isso pode ser assunto para outro artigo). Mas, voltemos ao fio da meada: hoje, muitos nem podem ser mais vistos ou reputados como pessoas que renunciaram à razão; aliás, esta assumiu o tribunal da consciência, tornado-se juíza de todas as coisas, inclusive do próprio livro preto mal compreendido. Aliás, o livro mal compreendido continua mal compreendido porque muita gente que o lê e estuda, o faz com uma má concepção acerca da veracidade dele; o que pode também ser discutido em outro artigo.
A verdade que antes apenas era uma, agora se multiplicou, e a mentira que sempre foi mal vista, agora é bem vinda, desde que gere bons resultados e, lógico, para isso, precisa ser bem empregada. Vivemos a época da inversão de valores e da inteligência mal direcionada, mas isso também não será discutido neste espaço.
Será que precisamos experimentar os extremos da gangorra no atual movimento evangélico brasileiro? Isto é, ou a ignorância e o obscurantismo religioso ou o ceticismo motivado pela falsa sabedoria. Eu tenho pensado que devemos, como cristãos, permitir que o livro preto remodele a nossa cosmovisão. Acredito que o tal livro é a Verdade pela qual as outras verdades podem ser medidas.
Chega de pensar que é bonito ser cético, critico, liberal e ecumênico; vamos voltar a refletir a fé protestante a partir da reforma e de seus pensadores. Se isso não ocorrer, o que nos resta é nos envolvermos no misticismo católico pré-reforma da era das trevas, que também tem sido bem visto por alguns pastores da atualidade, e que, talvez, até apreciem o ecumenismo no processo de formação espiritual. Temo pela lucidez destes amados, pois o obscurantismo custa caro e a conta chegará cedo ou tarde.
Precisamos mais do que nunca de uma teologização da nossa inteligência. Acredito que chegaremos lá lendo as Escrituras com as lentes dos reformadores. Mas será que o evangelicalismo brasileiro na atual conjuntura está disposto a retornar as bases da reforma? Talvez esse também mereça ser tratado como tema para outro artigo.
De qualquer forma precisamos experimentar uma fé inteligente, que nos assemelha ao homem mais inteligente que esteve entre nós a mais ou menos dois mil anos e, como marginal, foi crucificado fora da cidade de Jerusalém, a assassina de profetas! Fé inteligente que nos faz anunciar o evangelho ao homem perdido e que não nos faz meros transportadores do tal livro preto, mas que o coloque no cerne das nossas motivações.
Se assim não for, temo que os cristãos da próxima geração sequer utilizarão o livro preto em seus encontros, sequer precisarão pensar sobre a vida cristã, sequer terão que enfrentar suas crises e ambigüidades, pois a geração que inverte valores é também a que amortiza as consciências e faz do conforto o Baal contemporâneo. Uma sociedade que não enfrenta problemas e obstáculos para crescer é uma sociedade fadada à ausência de estímulo existencial. Bem, talvez esse também seja tema para outro artigo.
Quero retornar ao primeiro amor e gostaria que os crentes viessem comigo. Isso não é só teologizar a inteligência, mas também ser mais semelhante àquele que amou ilimitadamente, e justamente por isso, chegou literalmente ao topo máximo do desconforto e ignomínia da sua época. Sendo fixado no mais cruel instrumento de execução romano, nos atraiu para si, num espetáculo de dor, angústia e vitória assistido e presenciado, não apenas pelos seus executores, mas por anjos e demônios - o triunfo que começa na manjedoura e culmina em um túmulo vazio. Mas esse fato também pode ser discutido em outro artigo. Mas qual a relação deste espetáculo com o protestantismo tupiniquim? Bem talvez esse também seja tema para outro artigo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A Teologia Aplicada como resposta apropriada para as crises da Igreja evangélica Brasileira.

Ao analisar o movimento evangélico no Brasil, podemos facilmente identificar pelo menos dez conceitos errados na espiritualidade evangélica contemporânea:
1. A Crise do Individuo (O cristianismo do individualismo): existe uma ênfase na particularidade individual e privada - cada um tem a sua própria espiritualidade, independentemente da igreja em que congrega. A vida do indivíduo é tão particular e privada que muitas vezes poderíamos supor que nem Deus tem acesso e espaço para interagir e transformar sua vida. O pensamento é “cada cabeça uma sentença, ninguém tem nada a ver comigo”. Esses vícios da mente e do hábito geram ovelhas impastoreáveis e blindadas ao amadurecimento na fé.
2. A Crise na Eclesiologia: O conceito acerca do que é a igreja segundo o N. T. está se desvanecendo. Muitos evangélicos pensam que a Igreja está a serviço deles -esquecem que eles devem também servir a Deus por meio da Igreja (edificando e sendo edificados). Podemos verificar isso por meio de dois fenômenos bem conhecidos daqueles que labutam na arte de apascentar pessoas - são eles: o melindre (facilidade em ofender-se, em magoar-se), que se hospeda no coração de muitos nômades da fé. Como exemplo, podemos observar aquelas pessoas que ficam migrando entre as igrejas locais. O segundo fenômeno é a busca por parte do povo pelo melhor atendimento. Parece-me que hoje muitos têm buscado construir igrejas que atendam cada vez melhor o povo, e o melhor é definido em termos pragmáticos, tendo como parâmetro o profissionalismo e os fatores numéricos. Não me admiraria se daqui a pouco tivéssemos um selo de certificado que mediria a qualidade dos trabalhos da igreja, uma espécie de ISO 9000 da fé.
3. A Crise na Teologia Própria: Há uma verdadeira confusão acerca do conceito de Deus. Para muitos, Deus é apenas um meio para se obter satisfação. Para estes, a oração acaba se tornando apenas um mecanismo para obtenção de bênçãos, e não uma expressão de relacionamento com Deus. Para outros, Deus não é soberano e, por não ser soberano, não é onisciente e nem livre, pois seu amor por nós paralisa sua soberania sobre nossas vidas, não interferindo nas nossas escolhas. OBS: se alguém souber como fica a oração feita a um "deus" assim, tão limitado, me avise, por favor.
4. A Crise nos Alvos Individuais: Podemos dizer que os evangélicos tupiniquins buscam mais a felicidade do que a santidade. Há um desvio de foco quanto ao propósito de vida; já não se vive mais para a glória de Deus (1 Co 10.31), e sim para a satisfação dos desejos egoístas (Tg 4.1-5). A busca pela felicidade é definida em termos daquilo que acumulamos e conquistamos ao longo da vida e não em termos do que nos tornamos, e nem do quanto nos assemelhamos com o Mestre (2 Co 3.18). Somos uma sociedade que se compraz nas compras e nos bens de consumo; vende-se a alma por qualquer preço. Existe o fenômeno do absolutismo do ego, entre fazer o que é certo aos olhos de Deus ou fazer aquilo que nos agrada, trazendo algum tipo de satisfação imediata. Geralmente, e com desconcertante naturalidade, escolhemos a segunda opção.
5. A Crise Familiar: Vivemos uma época da vulnerabilidade familiar. Há no evangelicalismo protestante um incentivo a casamentos e noivados precoces, sem aconselhamento pré-matrimonial; isso forma lares que já nascem arruinados. Registre-se que esse fenômeno é fomentado em um ambiente de desvalorização dos laços familiares. Os divórcios são praticados por motivos banais. As famílias, em um ambiente assim, se tornam vulneráveis às contendas e suscetíveis à destruição.
6. A Crise para o Ingresso na Igreja: O ingresso na igreja evangélica brasileira se dá por adesão e não por conversão. Precisamos retornar ao conceito acerca do que significa seguir a Jesus, isto é, ser discípulo. É muito provável que nos bancos das nossas igrejas existam crentes que, talvez, nas suas vidas, jamais tenham tomado a decisão de seguir a Jesus - eles apenas concordaram intelectualmente sobre a mensagem da Cruz e consideram-se eternamente salvos.
7. A Crise da Liderança: Vivemos um momento em que a liderança passa por uma crise de identidade, além da velha guerra dos sexos que delimita as fronteiras ministeriais femininas, o que é absolutamente lúcido segundo o N.T. e que muitas igrejas ignoram, Temos hoje, na questão da liderança, um agravante: que é a busca e a valorização do carisma mais do que o caráter, passando por cima de todas as instruções bíblicas no tocante ao chamado ministerial. Isso se reflete, inclusive, quando se abre espaços ministeriais para mulheres de forma não condizente com o padrão neo testamentário. Há pastores que não sabem se são líderes organizacionais ou apascentadores de gente. Há ainda o emburrecimento no ministério de ensino das igrejas. Vivemos a época em que os jargões permeados de conceitos psicológicos são propagados pelos pregadores do "evangelho da auto-estima", que encoraja os crentes a serem ainda mais cobiçosos e, talvez, até oportunistas em seus ambientes de convívio. Vivemos a era do enfraquecimento do púlpito, a troca do púlpito pelo altar (da bênção) , a troca do estudo bíblico pelo estudo das técnicas de mercado, a busca pela psicologia mais do que pela teologia aplicada. Estamos na era do enfraquecimento acadêmico. Vemos isso ao nos depararmos com candidatos ao ministério pastoral que conseguem ir mal em exames de ordenação que já são medíocres e, ainda assim, serem aprovados no final.
8. A Crise na Ética: Somos a geração da flacidez ética e do desmoronamento de princípios básicos como: jugo desigual, divórcio, mentira, instrução da consciência.
9. A Crise no objeto de Culto: Culto ao Dinheiro. Bem profetizou John White "Se o dinheiro não é Deus porque a igreja o adora tanto?". Deus é uma espécie de máquina caça níqueis que se você tiver sorte ele pode te deixar rico e, para isso, basta se especializar em técnicas que te dão habilidade para lidar com essa grande “Máquina Cósmica” chamada Deus. Arrisco afirmar que não é só o evangelho da prosperidade que cultua o dinheiro; pois alguém, sem necessariamente ser um teólogo da prosperidade, poderia se utilizar do álibi da expansão do evangelho para edificar, a custa de técnicas de gerência, uma "igreja-empresa". Ela se tornará, em última ou em primeira instância, um meio para o enriquecimento. Buscar mais os altos dízimos do que almas para Cristo gera acepção de pessoas em larga escala. Por falar em culto, não podemos deixar de dizer que há hoje, uma carência de músicas de qualidade nas discografias dos "artistas" da música evangélica nacional. Cansa nossos ouvidos ladainhas sem teologia e nem reflexão bíblica, porém com muito lucro e prestígio para seus artistas. Precisamos de cantores evangélicos que sejam exemplos de espiritualidade sadia aos olhos do Pai, que não só escrevem boas letras, mas cujo testemunho é uma sinfonia agradável e afinada diante de Deus. Ainda bem que existem alguns que ainda preenchem estes requisitos. Precisamos, porém, garimpar estas jóias nas prateleiras das lojas especializadas.
10. A Crise na Formação Espiritual: Existe hoje certa imprudência no processo individual de formação espiritual, pois toda literatura e tele pregação ditas evangélicas são absorvidas pela maioria dos crentes no Brasil.

Acredito que a teologia aplicada, bem aplicada, certamente trará a Igreja Evangélica Brasileira de volta à esfera da vontade eficiente de Deus; isso, é claro, se a lei da mordaça não nos impedir de anunciarmos abertamente as virtudes e princípios d’Aquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9). Precisamos desesperadamente de uma reforma protestante no movimento evangélico brasileiro. Que Deus levante profetas, para mudarmos esse quadro.