terça-feira, 1 de julho de 2008

A Teologia Aplicada como resposta apropriada para as crises da Igreja evangélica Brasileira.

Ao analisar o movimento evangélico no Brasil, podemos facilmente identificar pelo menos dez conceitos errados na espiritualidade evangélica contemporânea:
1. A Crise do Individuo (O cristianismo do individualismo): existe uma ênfase na particularidade individual e privada - cada um tem a sua própria espiritualidade, independentemente da igreja em que congrega. A vida do indivíduo é tão particular e privada que muitas vezes poderíamos supor que nem Deus tem acesso e espaço para interagir e transformar sua vida. O pensamento é “cada cabeça uma sentença, ninguém tem nada a ver comigo”. Esses vícios da mente e do hábito geram ovelhas impastoreáveis e blindadas ao amadurecimento na fé.
2. A Crise na Eclesiologia: O conceito acerca do que é a igreja segundo o N. T. está se desvanecendo. Muitos evangélicos pensam que a Igreja está a serviço deles -esquecem que eles devem também servir a Deus por meio da Igreja (edificando e sendo edificados). Podemos verificar isso por meio de dois fenômenos bem conhecidos daqueles que labutam na arte de apascentar pessoas - são eles: o melindre (facilidade em ofender-se, em magoar-se), que se hospeda no coração de muitos nômades da fé. Como exemplo, podemos observar aquelas pessoas que ficam migrando entre as igrejas locais. O segundo fenômeno é a busca por parte do povo pelo melhor atendimento. Parece-me que hoje muitos têm buscado construir igrejas que atendam cada vez melhor o povo, e o melhor é definido em termos pragmáticos, tendo como parâmetro o profissionalismo e os fatores numéricos. Não me admiraria se daqui a pouco tivéssemos um selo de certificado que mediria a qualidade dos trabalhos da igreja, uma espécie de ISO 9000 da fé.
3. A Crise na Teologia Própria: Há uma verdadeira confusão acerca do conceito de Deus. Para muitos, Deus é apenas um meio para se obter satisfação. Para estes, a oração acaba se tornando apenas um mecanismo para obtenção de bênçãos, e não uma expressão de relacionamento com Deus. Para outros, Deus não é soberano e, por não ser soberano, não é onisciente e nem livre, pois seu amor por nós paralisa sua soberania sobre nossas vidas, não interferindo nas nossas escolhas. OBS: se alguém souber como fica a oração feita a um "deus" assim, tão limitado, me avise, por favor.
4. A Crise nos Alvos Individuais: Podemos dizer que os evangélicos tupiniquins buscam mais a felicidade do que a santidade. Há um desvio de foco quanto ao propósito de vida; já não se vive mais para a glória de Deus (1 Co 10.31), e sim para a satisfação dos desejos egoístas (Tg 4.1-5). A busca pela felicidade é definida em termos daquilo que acumulamos e conquistamos ao longo da vida e não em termos do que nos tornamos, e nem do quanto nos assemelhamos com o Mestre (2 Co 3.18). Somos uma sociedade que se compraz nas compras e nos bens de consumo; vende-se a alma por qualquer preço. Existe o fenômeno do absolutismo do ego, entre fazer o que é certo aos olhos de Deus ou fazer aquilo que nos agrada, trazendo algum tipo de satisfação imediata. Geralmente, e com desconcertante naturalidade, escolhemos a segunda opção.
5. A Crise Familiar: Vivemos uma época da vulnerabilidade familiar. Há no evangelicalismo protestante um incentivo a casamentos e noivados precoces, sem aconselhamento pré-matrimonial; isso forma lares que já nascem arruinados. Registre-se que esse fenômeno é fomentado em um ambiente de desvalorização dos laços familiares. Os divórcios são praticados por motivos banais. As famílias, em um ambiente assim, se tornam vulneráveis às contendas e suscetíveis à destruição.
6. A Crise para o Ingresso na Igreja: O ingresso na igreja evangélica brasileira se dá por adesão e não por conversão. Precisamos retornar ao conceito acerca do que significa seguir a Jesus, isto é, ser discípulo. É muito provável que nos bancos das nossas igrejas existam crentes que, talvez, nas suas vidas, jamais tenham tomado a decisão de seguir a Jesus - eles apenas concordaram intelectualmente sobre a mensagem da Cruz e consideram-se eternamente salvos.
7. A Crise da Liderança: Vivemos um momento em que a liderança passa por uma crise de identidade, além da velha guerra dos sexos que delimita as fronteiras ministeriais femininas, o que é absolutamente lúcido segundo o N.T. e que muitas igrejas ignoram, Temos hoje, na questão da liderança, um agravante: que é a busca e a valorização do carisma mais do que o caráter, passando por cima de todas as instruções bíblicas no tocante ao chamado ministerial. Isso se reflete, inclusive, quando se abre espaços ministeriais para mulheres de forma não condizente com o padrão neo testamentário. Há pastores que não sabem se são líderes organizacionais ou apascentadores de gente. Há ainda o emburrecimento no ministério de ensino das igrejas. Vivemos a época em que os jargões permeados de conceitos psicológicos são propagados pelos pregadores do "evangelho da auto-estima", que encoraja os crentes a serem ainda mais cobiçosos e, talvez, até oportunistas em seus ambientes de convívio. Vivemos a era do enfraquecimento do púlpito, a troca do púlpito pelo altar (da bênção) , a troca do estudo bíblico pelo estudo das técnicas de mercado, a busca pela psicologia mais do que pela teologia aplicada. Estamos na era do enfraquecimento acadêmico. Vemos isso ao nos depararmos com candidatos ao ministério pastoral que conseguem ir mal em exames de ordenação que já são medíocres e, ainda assim, serem aprovados no final.
8. A Crise na Ética: Somos a geração da flacidez ética e do desmoronamento de princípios básicos como: jugo desigual, divórcio, mentira, instrução da consciência.
9. A Crise no objeto de Culto: Culto ao Dinheiro. Bem profetizou John White "Se o dinheiro não é Deus porque a igreja o adora tanto?". Deus é uma espécie de máquina caça níqueis que se você tiver sorte ele pode te deixar rico e, para isso, basta se especializar em técnicas que te dão habilidade para lidar com essa grande “Máquina Cósmica” chamada Deus. Arrisco afirmar que não é só o evangelho da prosperidade que cultua o dinheiro; pois alguém, sem necessariamente ser um teólogo da prosperidade, poderia se utilizar do álibi da expansão do evangelho para edificar, a custa de técnicas de gerência, uma "igreja-empresa". Ela se tornará, em última ou em primeira instância, um meio para o enriquecimento. Buscar mais os altos dízimos do que almas para Cristo gera acepção de pessoas em larga escala. Por falar em culto, não podemos deixar de dizer que há hoje, uma carência de músicas de qualidade nas discografias dos "artistas" da música evangélica nacional. Cansa nossos ouvidos ladainhas sem teologia e nem reflexão bíblica, porém com muito lucro e prestígio para seus artistas. Precisamos de cantores evangélicos que sejam exemplos de espiritualidade sadia aos olhos do Pai, que não só escrevem boas letras, mas cujo testemunho é uma sinfonia agradável e afinada diante de Deus. Ainda bem que existem alguns que ainda preenchem estes requisitos. Precisamos, porém, garimpar estas jóias nas prateleiras das lojas especializadas.
10. A Crise na Formação Espiritual: Existe hoje certa imprudência no processo individual de formação espiritual, pois toda literatura e tele pregação ditas evangélicas são absorvidas pela maioria dos crentes no Brasil.

Acredito que a teologia aplicada, bem aplicada, certamente trará a Igreja Evangélica Brasileira de volta à esfera da vontade eficiente de Deus; isso, é claro, se a lei da mordaça não nos impedir de anunciarmos abertamente as virtudes e princípios d’Aquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9). Precisamos desesperadamente de uma reforma protestante no movimento evangélico brasileiro. Que Deus levante profetas, para mudarmos esse quadro.

Um comentário:

Daniel Nogueira disse...

Olá!
Excelente artigo.
Temos que ouvir o Pr Valderrama com carinho em relação ao ponto 6 - será estamos trabalhando por mais adeptos ou mais convertidos para nossas igrejas?
O convite a ser feito aos "de fora" é: junte-se a nós para ser discípulo de Jesus Cristo.
Deus abençoe a todos.
Daniel Nogueira